OBJETIVO: O trauma é um problema de saúde pública de enormes proporções. Constitui-se na principal causa de óbitos na população jovem. O Major Trauma Outcome Study (MTOS) é um estudo descritivo e retrospectivo da gravidade das lesões e evolução dos pacientes, considerado como o maior arquivo contemporâneo de informações descritivas de traumatizados. O objetivo do presente estudo é comparar o cálculo retrospectivo do New Injury Severity Score (NISS) com o Injury Severity Score (ISS) já calculado prospectivamente, utilizando o Trauma and Injury Severity Score (TRISS) e uma simples modificação deste índice, denominado de NTRISS (New Trauma and Injury Severity Score), e também comparar esta população submetida à laparotomia com os pacientes do MTOS. MÉTODO: Foram estudados 1.380 pacientes adultos traumatizados e submetidos à laparotomia na Disciplina de Cirurgia do Trauma da Unicamp, em Campinas, durante um período de oito anos. Os dados avaliados foram: demográficos, causa do trauma (fechado ou penetrante, ferimento por projétil de arma de fogo ou arma branca), estado fisiológico na admissão (RTS), diagnóstico anatômico de lesões (ATI, ISS e NISS), probabilidade de sobrevida utilizando o TRISS e o NTRISS, e a evolução do paciente (sobrevivência ou óbito). Foram utilizadas as estatísticas Z e W, inicialmente descritas por Flora, a fim de comparar a predição de óbitos ou sobreviventes com o estudo controle (MTOS). RESULTADOS: A maioria dos pacientes (88,3%) era do sexo masculino e jovem (média de idade de 30,4 anos). O ferimento por projétil de arma de fogo foi o mecanismo de trauma mais freqüente, com 641 casos (46,4%). Quatrocentos e trinta pacientes (31,2%) sofreram trauma fechado. As médias do ATI, ISS e NISS foram, respectivamente, de 12,3, 17,6 e 22,1. A taxa global de mortalidade foi de 16,8% e os pacientes com trauma contuso tiveram a maior mortalidade (29,3%). O NISS identificou melhor os sobreviventes e óbitos se comparado ao ISS, obtendo-se uma maior especificidade com o NTRISS. Foi observado um número significativamente menor de sobreviventes do que o esperado pelo estudo basal, com Z -16,24 com o TRISS e Z -9,40 se aplicado o NTRISS. Variações no valor da estatística W para cada paciente mostraram uma diferença no número de óbitos equivalente a 7,89 mais casos de óbito do que o esperado pelo MTOS, por 100 pacientes tratados, ao se empregar o TRISS, enquanto que estes valores foram reduzidos para 5,14 utilizando-se o NTRISS. CONCLUSÕES: Os métodos utilizados para cálculo da probabilidade de sobrevivência apresentaram limitações, particularmente nesta população com predomínio dos traumas penetrantes. O NISS, com o seu derivado NTRISS, foi o escore que obteve uma melhor predição de sobrevivência se comparado com o ISS. Os resultados obtidos com o TRISS e NTRISS foram estatisticamente piores do que os do MTOS, porém este processo de monitorização destes pacientes traumatizados tem sido importante para assegurar uma condição continuada de controle de qualidade.
BACKGROUND: Trauma is a public health problem of vast proportions. It is the leading cause of death among young people. The Major Trauma Outcome Study (MTOS) is a retrospective descriptive study of injury severity and outcome, considered the largest database of descriptive contemporary injuries information. The objective of this paper is to compare the retrospective calculation of NISS with prospectively calculated ISS, using TRISS and a simple modification called NTRISS (New Trauma and Injury Severity Score), and to compare this population submitted to laparotomy with MTOS patients. METHODS: We studied 1.380 trauma adult patients submitted to laparotomy at Discipline of Trauma Surgery - Unicamp, in Campinas, during a 8-year period. Submitted data included: demographics, cause of injury (blunt or penetrating, gunshot or stab wounds), physiologic status at admission (RTS), anatomic injury diagnoses (ATI, ISS and NISS), survival probability using the TRISS and NTRISS, and patient outcomes (survival or death). Z statistic and W statistic, first described by Flora, were used to compare the predicted number of deaths (or survivors) with the baseline MTOS norm. RESULTS: The majority of these patients was male (88.3%) with a mean age of 30.4 years. Gunshot wounds were the most frequent (641 cases - 46.4%) mechanism of trauma. Thirty one per cent had blunt injuries. The median ATI, ISS and NISS values were, respectively, 12.3, 17.6 and 22.1. The overall mortality rate was 16.8% and the patients with blunt trauma had the highest mortality rate (29.3%). NISS better separated survivors from nonsurvivors than ISS, with higher specificity of NTRISS. It was observed a significantly less survivors than expected from outcomes norms (Z -16.24 with TRISS and Z -9.40 with NTRISS). Ranges of W values for each patient set demonstrated a difference in the numbers of nonsurvivors of 7.89 more deaths per 100 patients treated than expected from the MTOS using TRISS, while this values were reduced to 5.14 using NTRISS. CONCLUSION: The methods used for survival probability calculation presented limitations, particularly in this population with predominance of penetrating trauma. The NISS, with its derived NTRISS, was the score that better predicted survival than ISS. The results obtained with TRISS and NTRISS were significantly worse than MTOS, but this process of monitoring trauma patients have been important to ensure continued provision of quality of care.